Fénix - Bruna Diogo dos Santos

Fénix







A Vida agarrou nela, e espancou-a. 
Colocou-a encostada a uma parede com correntes a prender-lhe as mãos, os pés, o pescoço. Tentou viciar-lhe a mente numa sensação avassaladora. Tentou calar-lhe as palavras. Arrancou-lhe lágrimas geladas e rasgou-lhe a pele. Depois soltou-a e deixou-a à beira do abismo, esperando que ela caísse. E bateu-lhe. Bateu-lhe tanto até que ela já sentisse que a respiração a poderia matar. Permaneceu ali, imóvel, na exactidão de que lhe tinha corrompido a alma, cuja dor não suportaria. A Vida quis matar-lhe o que de diferente havia nela. E largou-a gelada num destino que de tudo o que tinha para ser brilhante, parecia estar a desvanecer-se. Mal sabia a Vida, que estava a fazer renascer uma Fénix. E assim, dorida, esmagada pela pressão do mundo, abriu os olhos ao sol e deixou-se aquecer. 
Ela curou as feridas com álcool. Ainda as cura. Ergueu-se cansada e derramou-se em líquido até queimar as veias. Viu transeuntes da sua vida surgirem, olharem e passarem. Aqueles que outrora a viam num altar, agora afundavam-se em glória de a ver assim. E os que a deviam amar... partiram. Não a amavam. Amaldiçoavam-na. É quando se vê fragilidade que se volta a tentar destruir. E ela parecia indestrutível, que raio. Mantinha-se ali, de pé, já, de coração rasgado, mas a bater fortemente. Era suposto ela ficar fria. Era suposto ela enfraquecer. Era suposto quebrar. Tornar-se feia, velha, sem esperança. Era suposto estar perdida de tão negra que parecia a atmosfera em seu redor. Mas que aura brilhante. Não era suposto brilhar assim. Ela devia estar apagada, sem jeito. A que se agarrava ela afinal? 

Quiseram-na presa, e ela lutou.
Quiseram-na com medo, e ela agarrou no medo e fez-se forte.
Quiseram-na desligada, e ela fez-se luz.
Quiseram-na fria, e ela fez-se chama.
Quiseram-na doente, e ela recuperou.
Quiseram-na desprovida de amor, e ela entregou-se sem vacilar.
Quiseram-na morta, e ela renasceu. 
Quiseram-na perdida e ela acreditou.
Quiseram mal-amada, e ela é admirada.
Não a quiseram, para afinal a quererem tanto...

Que inveja faz a força dessa mulher?


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